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quarta-feira, 24 de novembro de 2010

"Por Enquanto" (Legião Urbana)

A voz no alto-falante anunciava que eu deveria embarcar no meu vôo. Demorei a escutar, estava viajando, em algum universo paralelo, perdida entre lembranças. Não devia ser a primeira nem a segunda vez que a voz falava que era chamada final para o embarque, e quando fui voltando à realidade onde me encontrava, o aeroporto, pra dentro do meu eu, me direcionei ao portão de embarque, com o cartão de embarque e o passaporte na mão e o coração na boca.

Éramos como irmãs, desde pequena. Crescemos juntas, sendo cúmplices uma da outra, fazendo descobertas, guardando segredos, dividindo intimidades e tendo um mundo onde ninguém além de nós poderia entrar. É o que as pessoas entendem como uma amizade que transpõe o limite da vida, do tempo, da distância. Aquilo indestrutível, que é mais espiritual do que a fé de muitos falsos profetas.

Éramos inseparáveis. Dormíamos trocando confidências, aprendemos juntas a andar de bicicleta e éramos sócias do nosso restaurante imaginário, onde eu cozinhava, ela fazia entregas a domicílio com a minha caloi pelo quintal de casa. Ninguém entendia o fato de ela me entender em coisas estranhas. Ninguém entendia o fato de eu entender ela, quando ela parecia magoar meu coração. Mas era tudo além disso: um laço eterno, sujeito a momentos difíceis que eram superados com provas de amizade.

Lembranças, eram incontáveis, infinitas...O tempo passou, e crescemos juntas. E as provas de amizade foram ficando mais difíceis e elaboradas, mas sempre estavam ali, mostrando o devido lugar de cada uma na vida da outra. Até aquele dia, onde tudo mudou por um motivo que ninguém lembra ao certo qual é. E tão parecidas, donas do mesmo gênio, se trancaram em suas dores, sem compartilhá-las, como era de praxe. Só o tempo, e a necessidade de ter aquela parceria, as trouxe de volta àquela amizade, alguns anos mais tarde, mas aí já era tarde pra algumas coisas.

Algumas descobertas, alguns momentos e fases deliciosas de se repartir, já haviam passado, sem deixar neles, marcas de alegrias compartilhadas.

Agora, ela morava do outro lado do oceano. Não era fácil de chegar, sequer de usar o telefone. Mas a sintonia telepática continuava, e quando elas se precisavam, sentiam, e sabiam que deveriam se falar.

E assim, à distância, aos trancos e barrancos, foram recuperando o tempo perdido, e voltaram a ser as mesmas de sempre, como se o tempo não tivesse passado. Aparentemente, pelo menos.

E num dia, sem mais nem menos, percebo que ela não está bem, são problemas maiores que ela. Está lá, sozinha, longe do alcance da minha ajuda, e do meu apoio. A culpa vem, teria sido tudo diferente se aquele abismo de alguns anos não tivesse existido. E agora, ela é um outro alguém, que mudou com o tempo e as experiências de uma pessoa que não é mais uma menina. A vida teve que lhe ensinar, “é preciso saber viver”, sozinha, longe de casa, longe do porto seguro.

Sempre tive orgulho disso tudo, e pensei que não conseguiria no lugar dela. Mas o preço, às vezes é alto demais, e temos que saber se vale o risco de ousar ser feliz longe de tudo, sendo que o tudo é essencial pra nós.

O sorriso dela não era o mesmo, e eu podia sentir pelo tom da sua voz. E eu sei que alguma coisa aconteceu, ta tudo assim, tão diferente. Não havia diferença antes, nos tempos em que chegamos a acreditar que tudo era pra sempre, mas o pra sempre, sempre acaba. E isso eu fui aprender bem depois.

E mesmo assim, não me importava, só queria resgatar ela de volta. E sabendo de como estava tudo lá, aos extremos, tomei a decisão de pegar um avião, sem avisar, sem pensar em mais nada. E salvá-la. Do mundo, das pessoas e dela mesma.

Ela, que era tão diferente lá, longe das origens que ela tinha. Diferente e sozinha, e até meio triste, como nunca fora antes. Não dá pra ver só um lado dos nossos sonhos, eles precisam saber coexistir, pra que uma parte de nós não morra com a parte sufocada dos nossos desejos.

Não sabia como seria recebida, não nos entendemos quando nos falamos pela última vez, e falamos o que não devia nunca ser dito por ninguém. Mas eu precisava. Depois de tanto tempo, de tantas diferenças e de tanta distância emocional, dar uma prova de amizade, mais uma, entre tantas.

Quem me dera ao menos uma vez ter de volta todo ouro que entreguei a quem conseguiu me convencer que era prova de amizade, se alguém levasse embora até o que eu não tinha. E eu não tinha mais nada, eu precisava arriscar.

Mudaram as estações, e nada mudou, pelo menos pra mim. E agora, estou aqui, prestes a embarcar. Tomei a decisão tarde demais, e agora não tem mais o que fazer.

Mas não importa o que você pense, diga, sinta, nada vai conseguir mudar o que ficou, pois quando penso em alguém, só penso em você. Aí então, estamos bem, irmã.

Nunca gostei da idéia de finitude, e me mata saber que o pra sempre, acaba um dia.

E mesmo com tantos motivos pra deixar tudo como está, eu dei a prova, como nos velhos tempos.

Nem desistir, nem tentar, agora tanto faz.

Estou indo de volta pra casa... E te trago pra sempre, no coração.

By Nine

Link da Letra:

http://letras.terra.com.br/legiao-urbana/46970/

2 comentários:

Karynha disse...

Achei incrível, lindo, admirável... Um tanto quanto inexplicável, uma primeira primeira impressão incomparável, hihi música eh poesia e eu respiro e transpiro poesia, numa sintonia de acordes celestiais... Amei o blog, já estou aqui. :-)
Depois visitem o meu? Ainda estou no começo, http://karenlaissa.blogspot.com.
Beijo.

Laura disse...

Brilhante a ideia do blog de vcs ! jÁ to seguindo !!