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quarta-feira, 24 de novembro de 2010

"Por Enquanto" (Legião Urbana)

A voz no alto-falante anunciava que eu deveria embarcar no meu vôo. Demorei a escutar, estava viajando, em algum universo paralelo, perdida entre lembranças. Não devia ser a primeira nem a segunda vez que a voz falava que era chamada final para o embarque, e quando fui voltando à realidade onde me encontrava, o aeroporto, pra dentro do meu eu, me direcionei ao portão de embarque, com o cartão de embarque e o passaporte na mão e o coração na boca.

Éramos como irmãs, desde pequena. Crescemos juntas, sendo cúmplices uma da outra, fazendo descobertas, guardando segredos, dividindo intimidades e tendo um mundo onde ninguém além de nós poderia entrar. É o que as pessoas entendem como uma amizade que transpõe o limite da vida, do tempo, da distância. Aquilo indestrutível, que é mais espiritual do que a fé de muitos falsos profetas.

Éramos inseparáveis. Dormíamos trocando confidências, aprendemos juntas a andar de bicicleta e éramos sócias do nosso restaurante imaginário, onde eu cozinhava, ela fazia entregas a domicílio com a minha caloi pelo quintal de casa. Ninguém entendia o fato de ela me entender em coisas estranhas. Ninguém entendia o fato de eu entender ela, quando ela parecia magoar meu coração. Mas era tudo além disso: um laço eterno, sujeito a momentos difíceis que eram superados com provas de amizade.

Lembranças, eram incontáveis, infinitas...O tempo passou, e crescemos juntas. E as provas de amizade foram ficando mais difíceis e elaboradas, mas sempre estavam ali, mostrando o devido lugar de cada uma na vida da outra. Até aquele dia, onde tudo mudou por um motivo que ninguém lembra ao certo qual é. E tão parecidas, donas do mesmo gênio, se trancaram em suas dores, sem compartilhá-las, como era de praxe. Só o tempo, e a necessidade de ter aquela parceria, as trouxe de volta àquela amizade, alguns anos mais tarde, mas aí já era tarde pra algumas coisas.

Algumas descobertas, alguns momentos e fases deliciosas de se repartir, já haviam passado, sem deixar neles, marcas de alegrias compartilhadas.

Agora, ela morava do outro lado do oceano. Não era fácil de chegar, sequer de usar o telefone. Mas a sintonia telepática continuava, e quando elas se precisavam, sentiam, e sabiam que deveriam se falar.

E assim, à distância, aos trancos e barrancos, foram recuperando o tempo perdido, e voltaram a ser as mesmas de sempre, como se o tempo não tivesse passado. Aparentemente, pelo menos.

E num dia, sem mais nem menos, percebo que ela não está bem, são problemas maiores que ela. Está lá, sozinha, longe do alcance da minha ajuda, e do meu apoio. A culpa vem, teria sido tudo diferente se aquele abismo de alguns anos não tivesse existido. E agora, ela é um outro alguém, que mudou com o tempo e as experiências de uma pessoa que não é mais uma menina. A vida teve que lhe ensinar, “é preciso saber viver”, sozinha, longe de casa, longe do porto seguro.

Sempre tive orgulho disso tudo, e pensei que não conseguiria no lugar dela. Mas o preço, às vezes é alto demais, e temos que saber se vale o risco de ousar ser feliz longe de tudo, sendo que o tudo é essencial pra nós.

O sorriso dela não era o mesmo, e eu podia sentir pelo tom da sua voz. E eu sei que alguma coisa aconteceu, ta tudo assim, tão diferente. Não havia diferença antes, nos tempos em que chegamos a acreditar que tudo era pra sempre, mas o pra sempre, sempre acaba. E isso eu fui aprender bem depois.

E mesmo assim, não me importava, só queria resgatar ela de volta. E sabendo de como estava tudo lá, aos extremos, tomei a decisão de pegar um avião, sem avisar, sem pensar em mais nada. E salvá-la. Do mundo, das pessoas e dela mesma.

Ela, que era tão diferente lá, longe das origens que ela tinha. Diferente e sozinha, e até meio triste, como nunca fora antes. Não dá pra ver só um lado dos nossos sonhos, eles precisam saber coexistir, pra que uma parte de nós não morra com a parte sufocada dos nossos desejos.

Não sabia como seria recebida, não nos entendemos quando nos falamos pela última vez, e falamos o que não devia nunca ser dito por ninguém. Mas eu precisava. Depois de tanto tempo, de tantas diferenças e de tanta distância emocional, dar uma prova de amizade, mais uma, entre tantas.

Quem me dera ao menos uma vez ter de volta todo ouro que entreguei a quem conseguiu me convencer que era prova de amizade, se alguém levasse embora até o que eu não tinha. E eu não tinha mais nada, eu precisava arriscar.

Mudaram as estações, e nada mudou, pelo menos pra mim. E agora, estou aqui, prestes a embarcar. Tomei a decisão tarde demais, e agora não tem mais o que fazer.

Mas não importa o que você pense, diga, sinta, nada vai conseguir mudar o que ficou, pois quando penso em alguém, só penso em você. Aí então, estamos bem, irmã.

Nunca gostei da idéia de finitude, e me mata saber que o pra sempre, acaba um dia.

E mesmo com tantos motivos pra deixar tudo como está, eu dei a prova, como nos velhos tempos.

Nem desistir, nem tentar, agora tanto faz.

Estou indo de volta pra casa... E te trago pra sempre, no coração.

By Nine

Link da Letra:

http://letras.terra.com.br/legiao-urbana/46970/

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

"Oito Anos" (Paula Toller)

“Queria voltar a ser criança porque os joelhos ralados curam bem mais rápidos do que um coração partido.”

Depois de passar um longo tempo sem escrever aqui, volto. Os posts dessa semana estão mais que atrasados. Idéias legais que vieram à mente pro dia das crianças e por turbulências no caminho, ficaram arquivadas. Parindo a idéia de voltar no tempo, pois o passado me traz uma lembrança do tempo que eu era criança, usarei de Paula Toller na fofíssima “Oito Anos”. Letra que mostra toda curiosidade do filho da compositora, e é uma forma deliciosa de viajar na máquina do tempo de volta à “melhor idade”.

Quem não lembra de como é ter oito anos?

É já saber ler, é aprender a andar de bicicleta, é ser um pequeno filósofo, levantando grandes questões que parecem não ter resposta. Mas por quê? Por quê?

É esperar pelo natal, e ele nunca chega. E esse misterioso Papai Noel? Ouvi dizer que não existe, mas eu já vi! Será que descobri um segredo que nenhuma criança sabe?

Lembro do cheiro de pipoca doce na saída da escola quando eu tinha oito anos. E de acreditar que o país das maravilhas era no fundo do meu quintal, com suas árvores enormes e tantas flores diferentes, algumas dormiam quando a gente tocava nelas, e só acordavam segunda-feira!

Por que existe bicho com cara de palhaço? Cen-to-péia! Porque se eu encostar o dedo nela dói? Porque a manga da blusa tem o mesmo nome da fruta da mangueira? Por quê?

E nesse mar de fantasias sem pé nem cabeça, entre casas engraçadas, sem teto e sem chão, e perguntas infinitas, nós viajávamos. Até crescer e esquecer de perguntar os porquês. Qualquer resposta nos satisfaz, e não questionamos mais. Por quê?

Por que o céu é azul? Me explica a grande fúria do mundo. Por que existe fúria no mundo? Ele não é um país das maravilhas. Por que as pessoas só são felizes pra sempre nos contos de ficção? Como se escreve reveillon?

Well, well, well, Gabriel...

Por que os dedos murcham quando estou no banho? O que significa “Impávido colosso”?

Não sei, vamos aprender juntos?

Por que os ossos doem enquanto a gente dorme? Por que as ruas enchem quando está chovendo?

Porque é isso que acontece se a gente jogar lixo no chão.

Por que as unhas crescem? Por que o vidro embaça?

Não sei, nessa você me pegou.

Porque os dentes caem? Por onde os filhos saem?

Ops...Vamos chamar seu pai pra explicar?

Se as nossas perguntas que afundam sem respostas fossem tão simples quanto as que circundam o universo de uma criança, seríamos mais confiantes das respostas. Mas seríamos mais felizes?

Perdemos com o tempo, a nossa capacidade de questionar indeterminadamente. Hora ou outra, cedo ou tarde, uma resposta qualquer vai bastar para nos calar. Onde foi parar a magia? Até bem pouco tempo atrás poderíamos mudar o mundo. Quem roubou nossa coragem?

Por que deitar agora? É tarde, e você tem que ir pra escola amanhã.

Por que as cobras matam? Elas só se defendem, quando se sentem ameaçadas.

Do que é feita a nuvem? De algodão doce.

Do que é feita a neve? Aposto que é de sorvete.

Quem é Jesus Cristo? O melhor Homem que já existiu.

Quanto é mil trilhões vezes infinito? Por que o fogo queima? Por que a lua é branca?

Por que o sangue corre? Por que você se pinta? Por que que a gente espirra? Por que que a gente morre?

- Muitas perguntas não tem respostas, sabe.

- Mas por quê?

- Eu gostaria de saber. Com o tempo, você entende.

- E por que o tempo passa?

- Well, well, não sei Gabriel, não sei. Queria ficar aqui pra sempre.

By Mônica (A mãe do Gabriel, que um dia vai existir.)

Link da Letra:

http://letras.terra.com.br/paula-toller/211582/

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

"Vento no Litoral" (Legião Urbana)

Hoje acordei num dia daqueles. Dia cinza, árvores dançando com o vento e um baú de memórias se abrindo, bagunçando meus sentimentos desorganizados, que custam a se comportar. Eles insistem em não esquecer, o que fez com que até a terapia não tenha trazido resultado.

Era tarde nostálgica, como as preferidas de Anne. Ela adorava filosofar sobre as inquietudes do mundo ao som do sino dos ventos. Em dias como hoje, sinto mais falta dela do que nos demais. Pareço estar num vazio infinito. E hoje, isso pode piorar.

Abro gavetas, procurando por fotos, por cartas, por lembranças. Por qualquer coisa que Anne tenha tocado. Por algo que ainda tenha o cheiro suave das mãos dela. Por algo que ela tenha quebrado na tentativa de consertar, e eu guardei, porque eu nunca ficava bravo, era um eterno colecionador das suas desventuras. Acho a foto. Aquela, onde ela está mais radiante. Foi nosso primeiro dia junto ao mar, pelo menos daquela forma. E ela parecia criança com brinquedo novo, quando viu os cavalos- marinhos num lago formado pelo mar entre as pedras. Adorávamos ver o pôr-do-sol ali, sorrindo, nos amando e amando mais nossas existências por termos um ao outro.

Hoje isso é apenas fotografia antiga na minha gaveta, se apagando com o tempo, como provavelmente se apagará o rosto de Anne da minha memória com o passar dos anos e o avançar da idade, e não poderei evitar. E isso acaba comigo. Me mata um pouquinho a cada dia, com a tentativa de que morrendo em vida, eu possa ter direito a um último desejo e vê-la novamente, com o intuito de nessa condição, estar mais perto dela, mesmo sem poder tocá-la. E o sorriso vai ficando fraco, como a fotografia que não tem a mesma luz de outros tempos.

Todos sempre acharam louca demais a nossa história. Insana demais para dar certo. Quantas pessoas você conhece que encontram o amor de suas vidas de cara e são felizes para sempre?

E quando nos encontramos no universo imenso, achamos o nosso próprio espelho. E largamos o mundo, para podermos segurar um ao outro. Casamos, porque nos amávamos. Tivemos um filho, porque dividir o amor por dois era insuficiente e precisávamos estender isso para uma parte em comum de nós dois, a fusão de um amor que não tem fim.

“Tudo muito precipitado” - é o que todos diziam. E não ligávamos, e fazíamos tantos planos, que uma vida inteira não parecia suficiente para pôr em prática.

E agora, tenho que criar forças nessa tarde vazia, e eu não quero ir lá, onde todos vão no dia de hoje. Não é lá que vou encontrar ela. Ela era diferente, e marcou pela eternidade nossos encontros à beira mar.

E subi nas pedras, as mesmas de sempre, deixando o vento no meu rosto levar com ele a dor que parece nunca ter passado. Sei que faço isso pra esquecer. “Já fazem três anos, cara” – digo a mim mesmo. E a linha do horizonte me distrai. E dá um aperto no peito quando sinto falta dos planos que fazíamos, diante de um futuro planejado.

Eu sei, não foi minha culpa. Fiz tudo o que pude. Ela não me culpa. Mas deveria ser eu, não ela. Não depois do que houve ao nosso bebê. O pra sempre, sempre acaba...Mas nada vai mudar o que ficou.

E do meu lado, ninguém. Ninguém pra olhar comigo na mesma direção. Sinto sua falta todos os dias, Anne. Aonde está você agora além de aqui, dentro de mim? Quando penso em alguém, só penso em você.

O mundo nunca entendeu o que só nós podíamos sentir. E agimos certo, sem querer. Foi só o tempo que errou. Ele te tirou de mim cedo demais. Está muito difícil sem você, porque você está comigo o tempo todo. E lembro das suas conversas insanas que me arrepiavam, dizendo pra seguir em frente e ser feliz, caso você não pudesse estar comigo. As ondas quebram mais forte nas pedras, e eu lembro que a vida continua, mesmo contra a minha vontade. E você dizia, que se entregar é para os fracos, não passava de bobagem. Lembra que o plano era ficarmos bem? Mas eu não consigo seguir sem você, Anne. Já que você não está aqui, o que posso fazer é cuidar de mim.

Ei, olha o que tem aqui. Cavalos marinhos. Lembra?

Me levanto, e dou mais um adeus, entre tantos. E deixo a onda me acertar. E o vento vai levando tudo embora...

By Mônica

Link da Letra:

http://letras.terra.com.br/legiao-urbana/22505/

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

"Pedra, Flor, Espinho" (Barão Vermelho) X "Pense e Dance" (Barão Vermelho)

“Aprendi com a primavera a deixar-me cortar e voltar sempre inteira”

(Clarice Lispector)

Primavera chegou, e eu sempre volto a falar de flores, ou pelo menos tentar. Daí, fiquei a pensar em músicas que me trouxessem flores para as pautas que eu vou rabiscar, e lembrei do meu primeiro post aqui, que falava justamente sobre flores, onde usei músicas especiais, de Titãs, Legião e Barão. Ah! Barão! Tem aquela música legal...Que fala de flor, mesmo que metaforicamente, ou apenas no nome. Com o que combinar uma letra tão boa? Depois de várias “finalistas”, enfeito o jardim que começa a florir nessa primavera, com “Pedra, flor, espinho” e “Pense e dance”, ambas do Barão Vermelho.

Mas que flores são essas que não falam de amor, e só falam de desejo? E quem disse que não há desejo no amor? São aquelas teorias furadas de que o amor é o “sem graça”, “sem fogo”, “água com açúcar”, o inocente e intocável dos sentimentos. O oposto daquela tal de paixão, a avassaladora que tira a pureza e o juízo de quem ousa pensar em seu nome. Blá, blá, blá, tudo besteira, fingimento e encenação, visto que amor é continuidade da paixão, tanto quanto letra e melodia, sol e calor, chuva e arco-íris. E essas “flores” falam disso. Primavera desperta aquela sensação de romantismo, Romeu e Julieta, com açúcar e afeto, que só acenderá o fogo quando o verão chegar, com o seu calor e desejo de sentimentos ardentes numa noite quente à beira mar.

Como eu sou ansiosa e intensa em tudo que eu sinto, eu promovi a primavera, parafraseando os meninos do Barão, que dizem que hoje não querem ver o sol. E eu desprezo os dias cinzentos, vou pra noite, tudo vai rolar (“A noite vai ser boa, e tudo vai rolar...”). Saudações a quem tem coragem, aos que tão aqui pra qualquer viagem. Automóveis piscam os seus faróis, sexo nas esquinas, violentas paixões. Não é disso que nos alimentamos hoje em dia? Sair e ver no que vai dar. Compromisso pra que, se de tudo posso aproveitar um pouco, sem a nada me apegar?

Pra que perder tempo desperdiçando emoções? Não fique esperando a vida passar tão rápido, pois se você quiser, tudo pode acontecer no caminho. E não me diga não, não me diga o que fazer, sou eu quem escolho e faço os meus inimigos. E as minhas verdades eu invento sem medo, não me venha falar de medo, todo mundo tem um pouco de medo da vida. Eu não esqueço de quem um dia amei, e não penso em tudo que já fiz. Não me fale de você. Fale de você. Que eu quero ver você, e exorcizo as minhas fantasias. Quero te satisfazer, ser o seu maior brinquedo. Eu faço tudo pelos meus desejos, para que grilar com pequenas provocações, se esse seu ar obscuro é o meu objeto de prazer?

Eu quero te ter, ataco se isso for preciso. Alimento todos os desejos, e se você quiser, eu bebo o seu vinho. Não me diga não, o seu instinto é o meu desejo mais puro, e o meu coração é só um desejo de prazer, e eu rasgo o couro com os dentes. Não quer flor, não quer saber de espinho. Mas se você quiser, sou pedra, flor, espinho. E beijo uma flor sem machucar. Nenhum desejo pode ser mais excitante do que amar de verdade.

Penso como vai minha vida - Vida vazia, de jogos de poder. Eu que domino, mas não sou egoísta. É que o mundo é o meu eixo pra eu girar em torno de mim mesmo - Olhos negros, olhos negros. Olhos que procuram em silêncio, ver nas coisas, cores irreais. E eu aproveito pra sonhar enquanto é tempo, pois a felicidade é um estado imaginário.

Saudações a quem tem coragem, e não me venha falar de medo, pois é preciso pensar – antes de descartar um coração com desejos puros. E dançar - conforme a música da vida, que passa tão rápido. Desprezando dias cinzentos, beijando flores sem machucar. Deixando-se cortar pelos espinhos, e voltando inteiro para quem um dia amei. Sendo pedra, flor, com sonhos, enquanto é tempo.

By Mônica

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sexta-feira, 17 de setembro de 2010

"A Câmera que Filma os Dias" (Ana Carolina) X "Relicário" (Nando Reis)

A luz que eu vi naquele dia escuro e ruim, que era uma tarde linda que não queria se pôr, era luz por encomenda para te filmar. E através de teus gestos solitários pela lente sem fim, você invadia mais um lugar onde eu não vou. E eu, entre milhões de vasos sem nenhuma flor, via as ilhas dançando sobre o mar. Mas lento, o tempo parecia desfocar. E tanta coisa e

scapa sem o olho ver, e o mundo está ao contrário, e ninguém reparou. E eu te vi assim, sem jeito e sem querer. E isso foi o tiro certo para começar nosso enredo.

Não lembro o dia em que isso tudo comecei, mas era um dia de inverno quando você chegou, e se não fosse seu abraço, compraria um moletom. E eu tinha medo de ser um tipo ensaiado, não inventa pose que eu fico invocada. E a lua corria, porque longe vai? Sobe o dia tão vertical, o horizonte anuncia com o seu vitral, que eu trocaria a eternidade por essa noite. Porque está amanhecendo? Peço ao contrário ver o sol se pôr. Porque está amanhecendo? Se não vou beijar seus lábios quando você se for. Como meu dia vai nascer feliz?

E entre o sonho criar asas, na iminência ou não de virar realidade, a vida ia passando no seu vai-e-vem, mas não demora, a porta já fechou ali no armazém. Será que eu sei que você é mesmo tudo aquilo que me falta? Essa imagem não se cansa de me assaltar. A câmera que filma os dias tomou conta de mim, e passei aquele inverno inteiro a te focar. O que está acontecendo? Eu estava em paz quando você chegou. Sua cartilha tem o A de que cor? O mundo é azul? Qual é a cor do amor?

E entre trocas de afeto e juras de amor, foi crescendo a sensação de que a vida é melhor, agora que você está no mundo. E eu não quero nada pra mim, eu vim pelo que sei, e pelo que sei, você gosta de mim. E eu guardei a canção que eu fiz pra você pra você não esquecer que eu tenho um coração, e é seu. Por isso eu te transformei nessa canção, pra poder te gravar em mim, como um filme todo em câmera lenta. Porque eu acho que eu gosto mesmo de você, bem do jeito que você é.

E o que você está fazendo? Um relicário imenso desse amor. Quem nesse mundo faz o que há durar? Pura semente dura: o futuro amor. Eu sou a chuva pra você secar. Pelo zunido das suas asas você me falou. O que você está dizendo? Milhões de frases sem nenhuma cor. O que você está fazendo? Por que é que está fazendo assim?

O mundo começa agora. E o amor tem sempre a porta aberta, e vem chegando a primavera. Nosso futuro recomeça. Venha, que o que vem, é perfeição.

E o desfecho? Tenho ainda nas paredes que grafitei. A câmera que filma os dias deu um giro e parou. Na nossa história, que não estará pelo avesso sem final feliz. Desde que você chegou, o meu coração se abriu. Hoje eu sinto mais calor e não sinto nem mais frio. E o que os olhos não vêm, o coração pressente. Mesmo na saudade você não está ausente. E em cada beijo seu. E em cada estrela do céu. E em cada flor no campo. E em cada letra no papel. Que cor terão seus olhos? E a luz dos seus cabelos?

Só sei que vou chamá-lo...amor.

By Mônica

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quarta-feira, 8 de setembro de 2010

"Notícias Populares" (Ana Carolina) X "Panis et Circenses" (Os Mutantes)

A idéia para a semana era óbvia como uma equação matemática: falar sobre a independência na semana da independência, onde todos fogem dos desfiles e tudo mais, mas aproveitam o feriado, é claro. Mas difícil foi fazer a escolha, se alegrar com ela, depois de mudar mil vezes e chegar numa escolha nada prevista, porém aceita, devido ao apressar da carruagem: “Notícias Populares”, da Ana Carolina e “Panis et Circenses”, dos Mutantes ilustres na música brasileira, Caetano e Gil.

Ok. Músicas escolhidas. Ops...Mas e a idéia da Independência? Quá. Acho que foi pro brejo, como o nosso país e o respeito que deveríamos ter por ele, em unanimidade, não só em minorias em extinção.

Panis et circenses, ou no melhor, curto e grosso português: Pão e circo. Que é o que os governantes do nosso país nos oferecem como recompensa e atrativo por termos usado nosso poder de mudança pra votar em quem continua a fazer o mesmo que foi feito até agora – porcaria nenhuma. Mas isso não vem ao caso, parabéns pra nós, os donos do poder em uso inadequado. É por isso que devemos ler os manuais de instruções, eles sempre explicam os problemas decorrentes, está tudo ali, compre se quiser.

Ana fala de Notícias Populares, aquilo que atrai o povo – Pão e circo, lógico. Comer porcarias e rir de besteiras, ou vice-versa. É o que a alienação nos permite querer, numa era onde se idolatra o sensacionalismo e nos importamos mais com as crises internacionais (quando pensamos em nos preocupar com alguma causa) do que com a nossa própria desgraça. Mas quem vai querer se importar com a pobreza tirando o seu sarro? O meu vidro já está todo blindado.

Podemos até esquecer a crise da Argentina, mas lá pelas Globos, Bands e Records da vida, temos notícias sobre o Onze de setembro e o Iraque aparecendo até nas TVs das lanchonetes. E quem procura saber se a água se acaba, e se há mendigas descabeladas dormindo na vertical em épocas onde o Código da Vinci ( ou código da Venda) é tão popular quanto os Nikes, bikes, Cocas lights e canivetes do camelô em cheques pré-datados que não estipulam datas para finalizar a nossa miséria material e intelectual? No dia em que S. Eliot, Velvet Underground e Manoel de Barros forem notícias populares, as pessoas vão parar de viver fazendo proveito apenas do pouco que restar.

Os mutantes terráqueos falam das pessoas da sala de jantar. Essas pessoas da sala de jantar. São as pessoas da sala de jantar. Que só estão preocupadas em nascer e morrer, nada que aconteça nesse mero intervalo de tempo chamado vida. Não se importando com as canções cantadas iluminadas de sol, tampouco com os panos soltos sobre os mastros no ar e os tigres e leões soltos no quintal.

Enquanto estivermos mergulhados nessa inércia mental que nos faz sermos essas pessoas na sala de jantar encenando papéis decorados, preocupados somente em nascer e morrer, as notícias populares vão continuar voando pelos ares e ninguém sabe se alguém recua ou se alguém invade. Se alguém tem nome ou se alguém tem fome, pois tanta gente vive só com o que dá pra aproveitar. E não adianta plantar folhas de sonho no jardim do solar, pois as folhas sabem procurar pelo sol, mas nós não sabemos procurar por nós mesmos. É querer demais procurar um ideal, um sonho e uma independência que nunca virá enquanto formos dependentes de cenários pré-montados com desfechos programados em falsos finais felizes com aplausos de pé. Pão e circo cansa, e é pra controlar marionetes, felizes com um cantinho pra deitar e uma bola pra acalmar. Mesmo que seja tudo forjado. Mesmo que seja tudo bossal. Mesmo que seja tudo absurdo. ‘Tudo errado, mas tudo bem...”

Eu furo os planos, eu furo o dedo, “mando vê”, aperto o passo, eu não sou louca. É que tomei um tiro no vidro do meu carro. E quando a pobreza leva meu dinheiro e meu livro caro, deixo que façam bom proveito da grana que roubaram, porque eu trabalho e outro dinheiro eu vou ganhar. Pra que me importar então? Vou ser só mais uma pessoa no ilustre banquete na sala de jantar, apenas preocupada em nascer e morrer, porque o resto exige potencial de mudança demais, e isso pode dar indigestão, nada pode estragar a festa na sala de jantar.

Mandei fazer de puro aço luminoso punhal para matar o meu amor e matei, às cinco horas na avenida central. E ninguém se chocou, afinal, tudo se acaba, olha o noticiário. Como a vida de alguém se acaba antes do final? São as pessoas da sala de jantar. Mas as pessoas da sala de jantar. São ocupadas em nascer e morrer. Independência? Não, não sei o que é...Me dá mais pão? O espetáculo vai começar. Sem segundo turno, espero.

By Mônica

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quarta-feira, 25 de agosto de 2010

"Astronauta" (Lulu Santos/Gabriel O Pensador) X "O Astronauta de Mármore" (Nenhum de Nós)

“ - O que você quer ser quando crescer, Aline?”

“ – Astronauta!!!”

“ – Mas porque Astronauta?”

“ – Por que eu vivo no mundo da lua!!!”.

Quem na infância, sob diferentes justificativas abstratas, não quis ser astronauta? Ver a Terra de longe, grande e azul, e milhares de vidas acontecendo na sua frente, e você só enxergando imensidão, estrelas cadentes e...Quem sabe não vê um extraterrestre ou um OVNI? E se eu descobrir um planeta novo onde existem pessoas como nós?

Eu sei, é muita ficção num mundo que já é uma novela por si só, mas são hipóteses que vagueavam pelo meu imaginário, no meu “Eu” de oito anos de idade.

Vamos falar do post dessa semana, e de músicas que eu aprendi a gostar em momentos diferentes, viajando nas letras como se fossem a minha nave especial. Vai que o mundo das maravilhas com o qual eu sonho não se encontra na Terra, mas existe em algum lugar? Viajando pelo universo infinito, peço carona ao “Astronauta” que é uma parceria entre Lulu Santos e Gabriel, O pensador e “O Astronauta de Mármore”, do Nenhum de Nós.

Começo pelo Astronauta de Lulu e Gabriel, que sente falta da Terra, mesmo tendo guerra, gente no bagaço, morrendo de cansaço de tanto lutar por um espaço, e ele lá com o espaço inteiro à sua disposição, quer voltar aqui pro chão, e pra toda essa nossa grande ignorância e nossa vida mesquinha, pois a solidão é tão lacerante que ele prefere essa vida difícil daqui, e o negócio tá feio, tá todo mundo feito cego em tiroteio.

E enquanto as pessoas olham pro alto procurando salvação e orientação, ele está perto de Deus, sabendo as respostas das grandes perguntas e não quer mandar tudo pela internet. Não adianta querer se livrar do peso da responsabilidade, a gravidade somos nós quem construímos, com toda nossa loucura, nossa tortura que nos permite conseguir sobreviver no meio do ódio, mentira e ambição.

E só estando face a face com a solidão, se percebe que nesse planeta doente, só nós podemos achar a cura pra cabeça e o coração da gente, e aí sim, seremos alguma criatura inteligente, como buscamos achar no espaço, definindo-os como nossos similares. Mas vida inteligente é algo longe de existir nessa merda de lugar, então não me mande nenhum e-mail com notícias, porque eu tô de saco cheio e vou me desconectar.

É tanto progresso que eu pareço criança, porque tudo evolui e nada cresce? Engatinho nessa loucura, a Terra é um planeta em extinção. É minha conclusão, nesse mundo de muita gente, onde só se encontra solidão. Cada um de nós dentro da sua própria bolha, em nossas redomas inquebráveis, nos fechando em solidão sem perceber, e fugindo dela, querendo voltar pra Terra. Estamos na Terra o tempo todo, querendo sobreviver, sem colocar os pés no chão e sonhando alto demais, nossos sonhos egoístas e mesquinhos, que valem pouco para repartir.

Vivendo no mundo da lua, no escuro deserto do céu, como astronautas de mármore. Queremos fugir da solidão, mas não usamos o machado pra quebrar o gelo. Queremos dar uma volta na nave, estamos de mala pronta, de partida, com a passagem só de ida, preparados pra seguir viagem, prontos pra decolar, mas a trajetória escapa o risco nu e as nuvens queimam o céu, nariz azul. Será que tenho uma chance de tentar viver sem dor? Vivendo fora de órbita, temos que assumir o risco que o vácuo nos traz e não podemos querer estar aquém do mundo ouvindo as vozes do rádio.

Sempre estar lá e ver ele voltar, não era mais o mesmo, mas estava em seu lugar. Que bicho te mordeu aí na lua, astronauta, que te fez querer voltar? Você não está feliz onde você está?

A lua inteira agora é um manto negro, estrela por aqui é o que não falta. A lua o lado escuro é sempre igual. E o mundo da lua é feito um motel, aonde os deuses e deusas se abraçam e beijam no céu. E observando tudo a distância, como a Terra é pequenininha. E no espaço, a solidão é tão normal...Desculpe estranho,eu voltei mais puro do céu. O tolo teme a noite, como a noite vai temer o fogo. E o fim das vozes no meu rádio, me fizeram acordar do sonho agora mesmo.

Nós, na Terra, olhamos pro céu e pedimos paz. Queremos viajar sem volta, pra um lugar que nos afaste desse pequeno universo de mentes inteligentes que transbordam loucuras e torturas e não são capazes de absolver a própria solidão. Antes só do que acompanhado demais. Porque preferimos reduzir nossos valores e multiplicar os bens.

Nós, no céu escuro, olhamos pra Terra e sentimos falta. Queremos voltar, pedimos notícias, a solidão é de matar. Como acabar com a solidão do mundo se não somos capazes de resolver nossas dores particulares? Cultivamos o deserto, e não aprendemos a nos curar. O simples mistério de amar. Como os deuses e deusas, no céu...

E o Astronauta, não é de mármore. Apenas de carne, osso, mente e coração. Porque eu não fiquei por lá, que era o melhor a fazer? Com todo aquele espaço na mão, agora eu olho pra lua implorando por paz. Vou chorar sem medo, vou lembrar do tempo de onde eu via o mundo azul...

By Mônica

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