Pra variar, o post dessa semana veio com atraso. Sete dias depois, eis-me aqui, terminando com mais uma espera do meu assíduo Edu. O tema é simples e complicado ao mesmo tempo. Não tem quem não tenha sentido e quem não tenha ouvido falar, mas o turbilhão de sensações que o tema nos faz sentir, aumentam a minha responsabilidade em algo tão frágil e difícil de abordar: a dor de um amor não resolvido. Ou o fim de um amor que urge
Falar desse tema é algo desafiador, pois exalta a parte hemorrágica que há em mim, que adora e necessita falar de dor de cotovelo, porque cada um tem uma visão tão diferente dos sofrimentos de amor,e é sempre bom ver uma situação por novos ângulos.
Começo meu ritual: leio as letras e começo ouvir as canções em pauta, e sangra pelos meus poros uma vontade de falar tanta coisa que me vem à mente e não consigo traduzir
Na letra de Roberto e Erasmo, o fim é tratado com lamentos e uma mágoa dolorida. É um alguém que se lamenta ainda amar e se entregar a um outro alguém, que pouco se importa com as feridas que abre nesse coração que ama sem receber amor. E essa pessoa, intensa, que ama e teme dizer seus sentimentos cada vez que é questionada sobre eles, esquece do seu orgulho, se sufoca em sua solidão, esquece o desprezo que sofreu e tenta novamente se entregar, achando que agora, será diferente. E percebe a estupidez quando o doce fica amargo e o sorriso do abandono é indiferente às cicatrizes que permanecem sangrando em sua alma.
Já Ana, não padece muda curtindo a sua dor. Ela grita. Ela tem raiva, mágoa viva, latejante em seus olhos coléricos, de quem tem pulsando dentro de si a vontade de se libertar de todo o mal que a indiferença aos nossos sentimentos nos faz sentir. Ela já diz de antemão, que está com três pedras na mão, portanto, que o semeador desses sentimentos passe longe. Ela diz que “só queria distância da nossa distância”, como quem quer distância de estar longe, porque sente saudades e quer ficar perto. E ao mesmo tempo, como quem quer distância disso tudo, porque não agüenta mais a situação e quer mesmo sair procurando uma contramão.
Ela sabe que cada um devia ficar na sua, mas quer, de toda forma, atingir quem a fez sofrer. E quando tenta fazer isso, se arrepende, por que lá no fundo do seu coração, teme acertar quem ela queria acertar. E quando vê que não dá em nada, percebe que não tem nenhum valor, porque não conseguiu acertar o coração. Pior que ter boca e não falar, ter olhos e não ver, é ter coração e nada sentir. E ela via um coração que era imune a qualquer atitude dela.
Ana, se vê como o alvo, de tanto que tinha sofrido. Na canção de Roberto, ele também se vê como alvo, carregando consigo as cicatrizes desse amor que o faz ficar ali, chorando a mesma dor e tendo que saber como é viver sem a pessoa amada. Ambos se sentem sós, um que tinha até a sua solidão na dela, outro, depois de tanta solidão, não querendo a volta nunca mais. Acabe com essa droga de uma vez, não volte nunca mais pra mim. E se eu for embora, não sou mais eu. Porque eu, nunca iria embora e te deixaria pra trás. Só que água de torneira não volta pelo ralo. E eu vou embora como ela. Adeus. Ponto final.
Será que com o fim decididamente decretado, tem-se a garantia do fim da dor lacerante?
A raiva, não ajuda
Grandes acontecimentos milagrosos só acontecem em filmes água com açúcar, e a realidade é um pouco mais amarga que isso. E engorda um bocado, contraditoriamente. Uma relação não precisa apenas de amor, porque ele só não basta. Ela exige, sim, muito esforço de ambas as partes e o reconhecimento dos passos errados, para que não se estabeleça uma guerra de culpas que termina em tragédia.
E se nada adiantar, ainda há a renovação. Todo fim leva ao começo de algo novo. Temos medo do novo, e de reviver situações e repetir sofrimentos, mas só há como saber vivendo, experimentando, porque as delícias que nos envolvem devem ser degustadas como pratos únicos e sem nos lambuzarmos, que gosto tem?
Citando uma frase de um filme bom que vi esses dias, “500 dias com ela”, a menina, ao aconselhar o irmão, que está abalado pelo fim de um amor que ele acreditava ser mais perfeito que tudo, lhe mostra, que na verdade, não era bem assim que as coisas funcionavam. Mas era apenas esse o ponto de vista dele da relação.
E ela lhe diz “Quando você olhar pra trás, dê um segundo olhar, e tente não ver apenas o lado bom”. Com isso, ela o faz perceber que esse amor perfeito era apenas uma ficção de sua mente, porque no fim das contas, amor mesmo, só ele sentia. E amor é um fluxo de ir e vir, não pode simplesmente ir e não voltar, ele precisa ser retroalimentado.
“Pra terminar, dizer que o amor chegou ao fim, esqueça de me perguntar se ainda há amor em mim”, diz Ana em outra canção. Porque quando ainda há amor de uma das partes, a sensação de fim não chega, fica uma idéia de “pausa para intervalo” como se a qualquer momento fossemos apertar o play e seguir em frente, mas não é assim. Isso de “dar um tempo” não funciona, porque, ou o amor existe, ou não.
Quando o tempo do amor passa, e o tempo age no desgaste dos sentimentos que deveriam se renovar todos os dias, não há nada que possa ser feito além de encerrar decentemente uma história que teve começo, meio e fim. E o final feliz? Fica pra mais tarde, após virar a página e iniciar o próximo capítulo. De preferência, sem repetir os erros. Contando coisas bonitas. E até lá, devemos viver. Temos muito ainda por fazer. Não olhe tanto pra trás, o mundo começa agora. E nós, apenas começamos.
(Obrigada, Boa noite.)
By Mônica
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1 comentários:
Música se comenta com música. Então peço licença para Rodrigo Amarante, e faço minhas as palavras dele.
"Quem sabe o que é ter e perder alguém
Sente a dor que senti."
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