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quarta-feira, 24 de março de 2010

Do Fundo do Meu Coração (Roberto/Erasmo Carlos) X É mágoa (Ana Carolina)

Pra variar, o post dessa semana veio com atraso. Sete dias depois, eis-me aqui, terminando mais uma espera. O tema é simples e complicado ao mesmo tempo. Não tem quem não tenha sentido e quem não tenha ouvido falar, mas o turbilhão de sensações que o tema nos faz sentir, aumentam a minha responsabilidade em algo tão frágil e difícil de abordar: a dor de um amor não resolvido. Ou o fim de um amor que urge em viver. Ou apenas, dor de cotovelo, se assim preferirem. Pra tal feitio, uso de “Do fundo do meu coração”, de Roberto e Erasmo - que aliás, fica belíssima na voz da Calcanhoto – e “É mágoa”, da intensa e sentimental Ana carol.

Falar desse tema é algo desafiador, pois exalta a parte hemorrágica que há em mim, que adora e necessita falar de dor de cotovelo, porque cada um tem uma visão tão diferente dos sofrimentos de amor,e é sempre bom ver uma situação por novos ângulos.

Começo meu ritual: leio as letras e começo ouvir as canções em pauta, e sangra pelos meus poros uma vontade de falar tanta coisa que me vem à mente e não consigo traduzir em palavras. Droga. No fim das contas, vou ser incompleta. Mas quando se trata de fim, é assim mesmo. Sempre nos sentimos amputados, faltando um pedaço vital nosso, que não entendemos como sobreviveremos sem.

Na letra de Roberto e Erasmo, o fim é tratado com lamentos e uma mágoa dolorida. É um alguém que se lamenta ainda amar e se entregar a um outro alguém, que pouco se importa com as feridas que abre nesse coração que ama sem receber amor. E essa pessoa, intensa, que ama e teme dizer seus sentimentos cada vez que é questionada sobre eles, esquece do seu orgulho, se sufoca em sua solidão, esquece o desprezo que sofreu e tenta novamente se entregar, achando que agora, será diferente. E percebe a estupidez quando o doce fica amargo e o sorriso do abandono é indiferente às cicatrizes que permanecem sangrando em sua alma.

Já Ana, não padece muda curtindo a sua dor. Ela grita. Ela tem raiva, mágoa viva, latejante em seus olhos coléricos, de quem tem pulsando dentro de si a vontade de se libertar de todo o mal que a indiferença aos nossos sentimentos nos faz sentir. Ela já diz de antemão, que está com três pedras na mão, portanto, que o semeador desses sentimentos passe longe. Ela diz que “só queria distância da nossa distância”, como quem quer distância de estar longe, porque sente saudades e quer ficar perto. E ao mesmo tempo, como quem quer distância disso tudo, porque não agüenta mais a situação e quer mesmo sair procurando uma contramão.

Ela sabe que cada um devia ficar na sua, mas quer, de toda forma, atingir quem a fez sofrer. E quando tenta fazer isso, se arrepende, por que lá no fundo do seu coração, teme acertar quem ela queria acertar. E quando vê que não dá em nada, percebe que não tem nenhum valor, porque não conseguiu acertar o coração. Pior que ter boca e não falar, ter olhos e não ver, é ter coração e nada sentir. E ela via um coração que era imune a qualquer atitude dela.

Ana, se vê como o alvo, de tanto que tinha sofrido. Na canção de Roberto, ele também se vê como alvo, carregando consigo as cicatrizes desse amor que o faz ficar ali, chorando a mesma dor e tendo que saber como é viver sem a pessoa amada. Ambos se sentem sós, um que tinha até a sua solidão na dela, outro, depois de tanta solidão, não querendo a volta nunca mais. Acabe com essa droga de uma vez, não volte nunca mais pra mim. E se eu for embora, não sou mais eu. Porque eu, nunca iria embora e te deixaria pra trás. Só que água de torneira não volta pelo ralo. E eu vou embora como ela. Adeus. Ponto final.

Será que com o fim decididamente decretado, tem-se a garantia do fim da dor lacerante?

A raiva, não ajuda em nada. Lamentar, muito menos. Porque nenhuma dessas alternativas é garantia de um coração mais leve e uma vida mais aliviada, se libertando dos fantasmas que tanto nos angustiam. Somos meros mortais, choramos água com sal. Mas o que tem uma importância relativa pra nós, fica guardado em um lugar especial, um lugar inatingível que não gostamos que seja afetado, nem destruído. E por isso, as dores demoram a se curar, porque não queremos nos libertar de tudo aquilo, porque a parte sonhadora que há em nós ainda acredita que um acontecimento extraordinário irá mudar o rumo das coisas e consertar os erros, fazendo a relação ser retomada de forma mágica.

Grandes acontecimentos milagrosos só acontecem em filmes água com açúcar, e a realidade é um pouco mais amarga que isso. Uma relação não precisa apenas de amor, porque ele só não basta. Ela exige, sim, muito esforço de ambas as partes e o reconhecimento dos passos errados, para que não se estabeleça uma guerra de culpas que termina em tragédia.

E se nada adiantar, ainda há a renovação. Todo fim leva ao começo de algo novo. Temos medo do novo, e de reviver situações e repetir sofrimentos, mas só há como saber vivendo, experimentando, porque as delícias que nos envolvem devem ser degustadas como pratos únicos e sem nos lambuzarmos, que gosto tem?

Citando uma frase de um filme bom que vi esses dias, “500 dias com ela”, a menina, ao aconselhar o irmão, que está abalado pelo fim de um amor que ele acreditava ser mais perfeito que tudo, lhe mostra, que na verdade, não era bem assim que as coisas funcionavam. Mas era apenas esse o ponto de vista dele da relação.

E ela lhe diz “Quando você olhar pra trás, dê um segundo olhar, e tente não ver apenas o lado bom”. Com isso, ela o faz perceber que esse amor perfeito era apenas uma ficção de sua mente, porque no fim das contas, amor mesmo, só ele sentia. E amor é um fluxo de ir e vir, não pode simplesmente ir e não voltar, ele precisa ser retroalimentado.

“Pra terminar, dizer que o amor chegou ao fim, esqueça de me perguntar se ainda há amor em mim”, diz Ana em outra canção. Porque quando ainda há amor de uma das partes, a sensação de fim não chega, fica uma idéia de “pausa para intervalo” como se a qualquer momento fossemos apertar o play e seguir em frente, mas não é assim. Isso de “dar um tempo” não funciona, porque, ou o amor existe, ou não.

Quando o tempo do amor passa, e o tempo age no desgaste dos sentimentos que deveriam se renovar todos os dias, não há nada que possa ser feito além de encerrar decentemente uma história que teve começo, meio e fim. E o final feliz? Fica pra mais tarde, após virar a página e iniciar o próximo capítulo. De preferência, sem repetir os erros. Contando coisas bonitas. E até lá, devemos viver. Temos muito ainda por fazer. Não olhe tanto pra trás, o mundo começa agora. E nós, apenas começamos.

(Obrigada, Boa noite.)

By Nine


Links das Letras:

http://letras.terra.com.br/ana-carolina/75939/

http://letras.terra.com.br/roberto-carlos/48582/

quarta-feira, 10 de março de 2010

Luiza (Tom Jobim) X Beatriz (Chico Buarque)

O post dessa semana é especial pra mim, por dois motivos: pelo NOSSO dia internacional e por falar de músicas com um significado especial: Luiza, de Tom Jobim e Beatriz, de Chico Buarque. Músicas especiais porque parecem traduzir o infinito particular que existe em cada uma de nós, pequenas deusas em terra de mortais. Luiza é especial em particular pra mim, porque um dia, do meu ventre para o mundo, a Luiza brilhará. E Beatriz, cuja musa inspiradora de Chico se chama...Marieta Severo, sua ex-esposa, que é atriz. Ser atriz. To be atriz. Beatriz. Logo, fala um pouquinho de todas nós, "Beatrizes" ou não. "Atrizes" ou não, mas que somos protagonistas das nossas próprias vidas. Autoras dignas de oscar das nossas histórias reais.

Beatriz é como uma bailarina, leve e delicada, dançando por onde quer que passe. Ela é moça, porque podemos ser jovens em todas as idades. É triste, porque carregamos fardos, por vezes, demasiadamente pesados. É ao contrário, porque viramos do avesso e temos fases: TPM, euforia,tristeza, melancolia. Ela é pintura, perfeita, feita à mão: é um quadro e uma escultura, com mil perfis em um só, como toda boa atriz: é estrela, divina, comédia, mentira. São papéis que interpreta, em lares que habita, com paredes de giz, frágeis e passíveis de desmoronar, como louça, que evaporam como éter, são insanos como a loucura, pré-montados para espetáculos como cenários de sua vida. Nada é constante, nem ela o é. Um dia, dança no sétimo céu. Em outro, chora num quarto de hotel.

Pra entrar em sua vida, é preciso aprender a andar sem os pés no chão, é aprender a arriscar-se, pois "para sempre" é por um triz. É preciso não temer
desastres, tragédias, terremotos, porque pode ser perigoso ser feliz.
Sempre há quem peça bis, nós somos todas meio assim. Divinas estrelas a decorar nossos papéis, bailarinas de outro país, prestes a despencar do céu, mas com um anjo a nos passar o chapéu.

Luiza é o outro lado que há em nós, que flutua, navegando no azul do firmamento, entre um silêncio em câmera lenta e um trovador cheio de estrelas. Amadores apaixonados tentam esquecê-la, mas são aprendizes do seu amor: eles desejam sempre os desejos dela, e querem ser exorcizados por essa vontade incontrolável de matar a sede de paixão que ela desperta.
E ela se mantém forte, aparentando distância. Embaixo dessa neve mora um coração?

Acorda, amor, que existe um coração que bate, uma mente que seduz, uma alma enigmática que atrai os sete mil amores guardados somente pra ela. Ela, com raios de sol nos cabelos, rosas na boca e um céu inteiro ao seu dispor, com uma lua a iluminar os sonhos e com as estrelas de um trovador envolvido pelo seu mistério.

"Luizas" e "Beatrizes" ganham canções de seus admiradores. "Luizas" e "Beatrizes" nada mais são do que as nossas versões, nossas faces, nossas vidas paralelas que convergem em um só ponto. A multiplicidade de um ser ímpar. O universo de sentimentos que se resume em um sorriso ao receber uma flor de um apaixonado, uma lágrima com o nascimento de um filho, uma lembrança de um momento especial, um novo patamar alcançado.

Todas somos bailarinas equilibristas, sensíveis, resistentes, choronas, determinadas, sensuais, princesas. Andando na corda bamba entre o nosso lado doce e o lado amargo, e despertando a fera, o bicho, o anjo e a mulher que existe no íntimo das nossas essências. Em comum, temos: esse ar de mistério e sedução, que desperta o amor, a proteção, o desejo, a paixão. E um pouquinho mais. E nesse vai-e-vem, entre arriscar, cair e se reerguer como mulheres maravilhas, continuamos. Sem parar de dançar. São dois pra lá, dois pra cá.

By Nine

Links das Letras:

http://letras.terra.com.br/tom-jobim/20019/

http://letras.terra.com.br/chico-buarque/45115/