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quarta-feira, 8 de setembro de 2010

"Notícias Populares" (Ana Carolina) X "Panis et Circenses" (Os Mutantes)

A idéia para a semana era óbvia como uma equação matemática: falar sobre a independência na semana da independência, onde todos fogem dos desfiles e tudo mais, mas aproveitam o feriado, é claro. Mas difícil foi fazer a escolha, se alegrar com ela, depois de mudar mil vezes e chegar numa escolha nada prevista, porém aceita, devido ao apressar da carruagem: “Notícias Populares”, da Ana Carolina e “Panis et Circenses”, dos Mutantes ilustres na música brasileira, Caetano e Gil.

Ok. Músicas escolhidas. Ops...Mas e a idéia da Independência? Quá. Acho que foi pro brejo, como o nosso país e o respeito que deveríamos ter por ele, em unanimidade, não só em minorias em extinção.

Panis et circenses, ou no melhor, curto e grosso português: Pão e circo. Que é o que os governantes do nosso país nos oferecem como recompensa e atrativo por termos usado nosso poder de mudança pra votar em quem continua a fazer o mesmo que foi feito até agora – porcaria nenhuma. Mas isso não vem ao caso, parabéns pra nós, os donos do poder em uso inadequado. É por isso que devemos ler os manuais de instruções, eles sempre explicam os problemas decorrentes, está tudo ali, compre se quiser.

Ana fala de Notícias Populares, aquilo que atrai o povo – Pão e circo, lógico. Comer porcarias e rir de besteiras, ou vice-versa. É o que a alienação nos permite querer, numa era onde se idolatra o sensacionalismo e nos importamos mais com as crises internacionais (quando pensamos em nos preocupar com alguma causa) do que com a nossa própria desgraça. Mas quem vai querer se importar com a pobreza tirando o seu sarro? O meu vidro já está todo blindado.

Podemos até esquecer a crise da Argentina, mas lá pelas Globos, Bands e Records da vida, temos notícias sobre o Onze de setembro e o Iraque aparecendo até nas TVs das lanchonetes. E quem procura saber se a água se acaba, e se há mendigas descabeladas dormindo na vertical em épocas onde o Código da Vinci ( ou código da Venda) é tão popular quanto os Nikes, bikes, Cocas lights e canivetes do camelô em cheques pré-datados que não estipulam datas para finalizar a nossa miséria material e intelectual? No dia em que S. Eliot, Velvet Underground e Manoel de Barros forem notícias populares, as pessoas vão parar de viver fazendo proveito apenas do pouco que restar.

Os mutantes terráqueos falam das pessoas da sala de jantar. Essas pessoas da sala de jantar. São as pessoas da sala de jantar. Que só estão preocupadas em nascer e morrer, nada que aconteça nesse mero intervalo de tempo chamado vida. Não se importando com as canções cantadas iluminadas de sol, tampouco com os panos soltos sobre os mastros no ar e os tigres e leões soltos no quintal.

Enquanto estivermos mergulhados nessa inércia mental que nos faz sermos essas pessoas na sala de jantar encenando papéis decorados, preocupados somente em nascer e morrer, as notícias populares vão continuar voando pelos ares e ninguém sabe se alguém recua ou se alguém invade. Se alguém tem nome ou se alguém tem fome, pois tanta gente vive só com o que dá pra aproveitar. E não adianta plantar folhas de sonho no jardim do solar, pois as folhas sabem procurar pelo sol, mas nós não sabemos procurar por nós mesmos. É querer demais procurar um ideal, um sonho e uma independência que nunca virá enquanto formos dependentes de cenários pré-montados com desfechos programados em falsos finais felizes com aplausos de pé. Pão e circo cansa, e é pra controlar marionetes, felizes com um cantinho pra deitar e uma bola pra acalmar. Mesmo que seja tudo forjado. Mesmo que seja tudo bossal. Mesmo que seja tudo absurdo. ‘Tudo errado, mas tudo bem...”

Eu furo os planos, eu furo o dedo, “mando vê”, aperto o passo, eu não sou louca. É que tomei um tiro no vidro do meu carro. E quando a pobreza leva meu dinheiro e meu livro caro, deixo que façam bom proveito da grana que roubaram, porque eu trabalho e outro dinheiro eu vou ganhar. Pra que me importar então? Vou ser só mais uma pessoa no ilustre banquete na sala de jantar, apenas preocupada em nascer e morrer, porque o resto exige potencial de mudança demais, e isso pode dar indigestão, nada pode estragar a festa na sala de jantar.

Mandei fazer de puro aço luminoso punhal para matar o meu amor e matei, às cinco horas na avenida central. E ninguém se chocou, afinal, tudo se acaba, olha o noticiário. Como a vida de alguém se acaba antes do final? São as pessoas da sala de jantar. Mas as pessoas da sala de jantar. São ocupadas em nascer e morrer. Independência? Não, não sei o que é...Me dá mais pão? O espetáculo vai começar. Sem segundo turno, espero.

By Mônica

Links das Letras:

http://letras.terra.com.br/ana-carolina-seu-jorge/476360/

http://letras.terra.com.br/mutantes/47544/

2 comentários:

Tainá Crisóstomo disse...

O negócio é que falar de Independência no Brasil é meio tenso... nós somos independentes no 7 de setembro, que bom, mas... e daí? Um país com tantos problemas como esse não deve ser idolatrado num feriado só pq somos independentes "politicamente".
Esse texto é maravilhoso. Panis et Circenses foi uma música muito feliz pra ser escolhida nessa época.
Só um detalhe: tenho amigos que passam o dia ouvindo Velvet Underground, passam o dia discutindo os problemas do país, mas, na prática, não fazem nada.
Adoro esse país.


Beijos, amo você, mamis. :*

Anônimo disse...

Pão e circo, é isso que o povo gosta, desde a época do império romano e nada mudou até hoje. Não somos os únicos que ficamos satisfeitos com uma bola pra distrair.
Mais uma vez você está de parabéns, e desta vez enveredando para um lado seu que acho fantástico, que é o da crítica de forma menos lírica e mais forte. Você é uma excelente escritora em qualquer tema. Está de parabéns, amor!
Você é o texto que todos lêem, né?! (você entendo o que eu digo RS) E seu nível de qualidade continua impecável.

Te amo!